sexta-feira, 8 de março de 2013

E.F: Capoeira... a importância dos Mestres Bimba e Pastinha


Os antigos Capoeiristas conseguiram burlar a ilegalidade da Capoeira e manter viva sua arte e tradição. Neste momento surge a figura dos grandes “Mestres da Capoeira”, homens que se destacaram não só pelo que fizeram enquanto praticantes desta modalidade, mas pela representatividade que suas realizações tiveram na perpetuação e afirmação da Capoeira como uma das mais ricas expressões de nossa cultura.

Dentre estes Mestres devemos destacar dois em especial: Manuel dos Reis Machado, o famoso Mestre
Bimba, criador da Capoeira Regional e Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, maior responsável pela preservação do estilo mais primitivo da Capoeira, a Capoeira de Angola.

O trabalho de Mestre Bimba (1900/1974) teve um papel fundamental no processo de legalização da Capoeira. Nascido em Salvador, este mulato de físico avantajado é, ainda criança, iniciado na Capoeira de
Angola pelo negro Bentinho. Aproximadamente em 1919, inspirado pelo desejo de participar dos combates
entre lutas marciais (principalmente jiu-jitsu e luta livre) muito comuns na época, e considerando a Capoeira Angola, que já praticava há 10 anos (4 como aluno e 6 como professor), pouco eficaz para tais embates, resolve criar um novo estilo de luta ao qual dá o nome de Luta Regional Baiana, a fim de fugir da ilegalidade imposta à Capoeira. Seu novo estilo consistia na mistura da Capoeira de Angola com o Batuque, luta de origem afro brasileira na qual seu pai era campeão baiano.

Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado (1900-1974). Criador da Capoeira Regional

Sua criação, mais ofensiva que a Capoeira primitiva, mostra-se muito eficiente nos combates, e o leva a aproveitar seu biotipo apropriado para a luta, tornando-se notório nas competições da época. Foi capa do
jornal “A Tarde” por diversas vezes em manchetes que glorificavam suas conquistas como lutador, tornando-se seu estilo conhecido como Capoeira Regional. Mas não foi somente através de suas lutas que seus feitos mereceram destaque, Bimba também foi o responsável pela criação do método de ensino na Capoeira (antes dele o aprendizado dava-se de forma empírica ou de oitiva, como se falava naquele tempo), pela implantação da graduação e das festas de batizado e formatura. Dessa forma, seu trabalho, juntamente com o de Mestre Pastinha, torna-se o grande responsável pela elitização e a moralização dos Capoeiristas da época, ou seja, a Capoeira como veículo de educação também nasce a partir dos esforços de Bimba e Pastinha.

Na década de 1930, a obra de Mestre Bimba recebe o reconhecimento dos governantes brasileiros. Juracy Magalhães, então interventor da justiça do governo Vargas, convida Bimba em 1934, para uma apresentação no Palácio do Governo. Após a apresentação, a Capoeira é registrada no Ministério da Educação e é concedido ao Mestre Bimba o título de professor de Educação Física. Chega ao fim o longo período de ilegalidade e marginalização vivido pela Capoeira.

Mestre Bimba e sua academia após apresentação para Getúlio
Vargas (1953)


O trabalho de Mestre Pastinha (1889/1981) tem na contraposição feita à Capoeira Regional de Mestre Bimba um papel fundamental, pois foi o grande responsável pela preservação, em toda sua essência, da primitiva Capoeira Angola. Além disso, foi importante por defender, através da Capoeira Angola, uma visão
mais cultural e comprometida com as tradições populares de nosso povo do que a proposta pela Regional, que apesar de não negar estas raízes, preferiu dar à Capoeira, naquele momento histórico, uma ótica mais ligada ao desporto e à luta. Devido à sua filosofia de trabalho, Pastinha é convidado pelo Itamaraty a participar em 1966, como representante do Brasil, do I Festival Mundial de Arte Negra de Dakar (África).


Mestre Pastinha - Vicente Ferreira Pastinha (1889-1981). Mestre Pastinha e seus alunos embarcando
para o I Festival Mundial de Arte Negra de Dakar (1966)

A partir de sua legalização, fosse através de academias ou de shows feitos por grupos folclóricos, a Capoeira espalha-se por todo o Brasil, seguindo basicamente estas duas propostas idealizadas por esses mestres baianos: Mestre Bimba e Mestre Pastinha.

Até a década de 80, vemos um movimento que privilegia a Capoeira Regional e sua visão esportiva, fato este que levou a grandes conquistas neste campo. Em 1969, foi realizado um congresso técnico no Rio de Janeiro, reunindo mestres de Capoeira, dentre eles Mestre Bimba, e membros da então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), a fim de começar o movimento de regulamentação da Capoeira como esporte, fato que só foi consumado em 1972. A partir daí surgem diversas federações de Capoeira por todo país, sempre ligadas à Confederação Brasileira de Pugilismo. Somente em 1992 é criada a Confederação Brasileira de Capoeira, que tem como um de seus primeiros feitos o reconhecimento da modalidade como esporte olímpico pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Outros fatos notados a partir da década de 70 no que diz respeito à Capoeira são sua crescente disseminação, através de Capoeiristas brasileiros que vão morar no exterior, por países da Europa e nos EUA. Além disso, nota-se também nesse mesmo período o início do interesse por parte do mundo acadêmico pelo universo da Capoeiragem.

A intensificação destes dois últimos fatos, a partir de 1980, leva a um resgate histórico e cultural das origens da Capoeira, o que, a princípio, gerou uma valorização da Capoeira Angola como fonte da pureza perdida ao longo dos anos com a popularização da Capoeira Regional. O amadurecimento em torno desta busca tem levado a um resgate mais profundo das raízes formadoras da Capoeira, compreendendo-a como uma só, contendo dois estilos distintos (Angola e Regional) e valorizando-a como uma das mais ricas manifestações culturais e folclóricas de nosso povo, misto de dança, luta, música, ritmo, religião, jogo e brincadeira, um segredo e uma tradição arraigada na história de nossa nação.

Hoje, a Capoeira é praticada em mais de 160 países nos cinco continentes. Só no Brasil, existem mais de 5 milhões de praticantes. E se a Capoeira é hoje reconhecida no mundo todo como um patrimônio cultural de inestimável valor, foi porque os mestres dessa arte zelaram e doaram suas vidas para que ela chegasse até os nossos dias com toda a vitalidade de uma cultura complexa e apaixonante.




Fonte
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/escolaintegral/brinquedo,%20peteca,%20futebol.pdf






Um comentário:

  1. GOSTEI MUITO DA MATERIA. BEM ESCRITA E NOS REMETE SIM A REVERENCIARMOS OS PRECURSORES DESTA MARCA CULTURAL DOS NOSSOS ANTEPASSADOS QUE SE PERPETUA ATE OS DIAS DE HOJE. INFELIZMENTE ELES NÃO VIVERAM E NEM DISFRUTARAM ECONOMICAMENTE DE TUDO QUE DEIXARAM COMO PATRIMONIO PARA O PAÍS.

    ResponderExcluir